domingo, 21 de dezembro de 2008

Carta de uma prenda para o sapatinho

Desde o primeiro momento em que reparaste em mim e sorriste, falando alto a ternura que transportas no teu SER, que o meu coraçãozinho desesperado de tanto aguardar alguma alma carinhosa que me tirasse dali, começou a bater, a bater, a bater…
“Tão querido, tão querido! Os olhinhos, mãe! Os olhinhos tão queridos!” Foram as tuas palavras misturadas com teus sorrisos cúmplices dos risos leves da tua mãe.
Depois, olhaste em frente e no mesmo segundo, com uma inocência de criança muito pequena espelhada no rosto, fixaste-me novamente, pegaste em mim e, desta vez, com um sorriso ainda maior, indiferente aos olhares atentos das adolescentes que aguardavam atrás de ti na fila da caixa registadora, olhaste-me nos olhos repetindo aquelas mesmas palavras “Tão querido, tão querido! Os olhinhos, mãe! Os olhinhos tão queridos!”
Quando voltaste a colocar-me na prateleira e desapareceste, após a tua mãe te ter segredado ao ouvido, senti-me alagar em tristeza. Ia voltar a ficar só. Não é que não estivesse já habituado e resignado com essa condição, mas aquela tua sincera e espontânea manifestação de carinho e atenção, como num acto de magia, fez nascer em mim algo que até então não conhecia. O meu coraçãozinho tinha começado a bater, a bater, a bater…
E, mais bateu, mais bateu, mais bateu quando senti que alguém, meigamente, com um riso malandro e satisfeito de boca a boca, me transportava na direcção de uma outra mão que segurava um saquinho de papel translúcido e de textura muito macia. Depois de um farfalhudo laçarote colado mesmo na direcção do meu narizito, fui arrumado com muito jeitinho num canto do saco que lhe pendia do ombro.
Sem que pudesses imaginar, assim de repente, lá andava eu a acompanhar-vos na azáfama do entra e sai, do pára e arranca daquela inesquecível tarde de um sábado natalício. Claro que a marota da tua mãe não me poderia ouvir, e eu sabia disso, mas mesmo assim, lá do fundo do saco, transbordante de uma euforia grande demais para caber no meu tamanho, gritava na minha linguagem de peluchezinho fofinho, de olhos cor-de-rosa muito grandes “Obrigado! Obrigado! Obrigado!” Um é para ti porque me fizeste nascer, outro é para a tua mãe que me permitiu a aventura de poder crescer a teu lado e outro é para mim por ousar acreditar no futuro.
Obrigado! Palavra nova, esta, no meu léxico. Não me lembro de me ter sido ensinada, nem tão pouco de a ter aprendido. Penso que surgiu, saída do coração a bater, a bater, a bater… pelo AMOR.
Guigui, minha querida princesa, que o teu sorriso, pela vida fora, continue a deixar transparecer a infância feliz que reside em ti!
O meu coração bate, bate, bate… expectante pela hora do nosso reencontro!

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